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02 / 09 / 2021
This article is only available in Portuguese.
It was last July that another edition of Walk&Talk took place, the renowned Festival of Arts in Azores which has the island of São Miguel at its epicenter.
Após o formato online/onsite de 2020, ditado pela situação pandémica, “Será por onde formos” foi o mote lançado para esta 10ª edição, com artistas e colectivos a exibirem projectos inéditos resultantes de residências artísticas realizadas no arquipélago entre 2018 e 2021. Marcando o retorno ao presencial, reconectando pessoas arte e paisagem, coincidiu ainda com a apresentação da nova sede da associação cultural Anda&Fala, organizadora do evento. Falamos da vaga – espaço de arte e conhecimento, situada num antigo armazém recuperado, na Calheta, em Ponta Delgada. Obra dos arquitectos Joana de Oliveira e Giacomo Mezzadri, co-fundadores do Mezzo Atelier, converteu-se num fervilhante ponto de encontro, palco de diversas iniciativas contempladas no programa de dez dias do festival.
Somando uma década de actividade, não restam dúvidas sobre o papel determinante do Walk&Talk na transformação do paradigma de produção cultural nos Açores, desafiando convenções locais e abrindo caminho para novas percepções e discursos no âmbito da arte e cultura. Movendo-se no espectro das artes visuais, da performance, da música, da arquitectura e do design, a sua natureza experimental e interventiva fá-lo questionar conceitos, promover a discussão e diluir fronteiras. Assim se estruturou ao longo dos anos: de forma orgânica, rejeitando circunscrever-se a uma fórmula específica, e optando antes por oferecer um programa atento ao mundo, reactivo a um contexto actual. Com efeito, segundo Sofia Carolina Botelho, “há sempre uma constante mutação porque, a cada edição, repensam-se dinâmicas de programação, de circulação e de criação”, num exercício capaz de fomentar “um ecossistema de muitas dúvidas e espontaneidade, não tanto de certezas”, acrescenta Jesse James. Na sua génese encontramos, desde logo, a ideia de comunalidade, reconhecem ambos os directores artísticos do W&T, assente em processos e lógicas mais horizontais, essenciais na criação de um sentido de pertença e de objectivos comuns. Estabelecendo um diálogo permanente com o território onde se insere e com as comunidades com as quais colabora, desenvolve-se numa estreita ligação com os outros agentes da ilha e do arquipélago. Isso mesmo nos comenta Ana Cristina Cachola, curadora convidada desta edição, na visita guiada que nos faz à exposição de Mané Pacheco, patente no Museu Carlos Machado. Organizado em torno de quatro núcleos centrais – História Natural, Arte, Arte Sacra e Etnografia –, enquanto parceiro do W&T, o museu acabaria por estender o seu raio de actuação ao campo da arte contemporânea, passando a dedicar-lhe uma das suas salas e criando, inclusive, um programa para artistas contemporâneos (que envolve não apenas a realização de exposições, mas também os serviços de mediação do próprio museu).
De referir também o programa de excursões diárias pensado pela Talkie-Walkie, Luís Fernandes e Rita Serra e Silva, resultando em dez experiências colectivas tão inesperadas quanto reveladoras. Ancoradas nas intervenções artísticas apresentadas nesta edição, contribuíram para atribuir novas narrativas às obras, sem descurar da ligação emocional com o lugar que as recebe. Na impossibilidade de as fazer a todas, embarcámos na Excursão à noite, que nos levou até à performance imersiva de Flávio Rodrigues, na Pedreira Marques, seguida da projecção de Alice dos Reis no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas; bem como na Excursão para comer a paisagem, proposta por Gustavo Ciríaco no Pico do Refúgio, num percurso sensorial e interactivo que culminou com um surpreendente jantar sob as estrelas.
Fiel ao seu propósito de imaginar novos projectos, motivar colaborações e, sobretudo, de aproximar, realça Jesse James, “Será por onde formos” voltou a ser essa oportunidade única de cruzar pessoas, práticas e linguagens, envolvendo-nos num ambiente caloroso, naturalmente familiar, ao qual o festival já nos habituou. Projectado a partir de/e para uma geografia insular – favorável, desde logo, à dinâmica de circulação e de encontro –, o seu vasto programa de exposições, instalações, espectáculos, performances e conversas será sempre fruto desse lugar de curiosidade e liberdade para experimentar e procurar. Um estimulante apelo colectivo, que nos convida à fruição e reflexão da arte contemporânea num cenário arrebatador e inspirador como só os Açores sabem ser.
Joana Jervell
Agradecimentos: Associação de Turismo dos Açores - www.visitazores.com
Somando uma década de actividade, não restam dúvidas sobre o papel determinante do Walk&Talk na transformação do paradigma de produção cultural nos Açores, desafiando convenções locais e abrindo caminho para novas percepções e discursos no âmbito da arte e cultura. Movendo-se no espectro das artes visuais, da performance, da música, da arquitectura e do design, a sua natureza experimental e interventiva fá-lo questionar conceitos, promover a discussão e diluir fronteiras. Assim se estruturou ao longo dos anos: de forma orgânica, rejeitando circunscrever-se a uma fórmula específica, e optando antes por oferecer um programa atento ao mundo, reactivo a um contexto actual. Com efeito, segundo Sofia Carolina Botelho, “há sempre uma constante mutação porque, a cada edição, repensam-se dinâmicas de programação, de circulação e de criação”, num exercício capaz de fomentar “um ecossistema de muitas dúvidas e espontaneidade, não tanto de certezas”, acrescenta Jesse James. Na sua génese encontramos, desde logo, a ideia de comunalidade, reconhecem ambos os directores artísticos do W&T, assente em processos e lógicas mais horizontais, essenciais na criação de um sentido de pertença e de objectivos comuns. Estabelecendo um diálogo permanente com o território onde se insere e com as comunidades com as quais colabora, desenvolve-se numa estreita ligação com os outros agentes da ilha e do arquipélago. Isso mesmo nos comenta Ana Cristina Cachola, curadora convidada desta edição, na visita guiada que nos faz à exposição de Mané Pacheco, patente no Museu Carlos Machado. Organizado em torno de quatro núcleos centrais – História Natural, Arte, Arte Sacra e Etnografia –, enquanto parceiro do W&T, o museu acabaria por estender o seu raio de actuação ao campo da arte contemporânea, passando a dedicar-lhe uma das suas salas e criando, inclusive, um programa para artistas contemporâneos (que envolve não apenas a realização de exposições, mas também os serviços de mediação do próprio museu).
De referir também o programa de excursões diárias pensado pela Talkie-Walkie, Luís Fernandes e Rita Serra e Silva, resultando em dez experiências colectivas tão inesperadas quanto reveladoras. Ancoradas nas intervenções artísticas apresentadas nesta edição, contribuíram para atribuir novas narrativas às obras, sem descurar da ligação emocional com o lugar que as recebe. Na impossibilidade de as fazer a todas, embarcámos na Excursão à noite, que nos levou até à performance imersiva de Flávio Rodrigues, na Pedreira Marques, seguida da projecção de Alice dos Reis no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas; bem como na Excursão para comer a paisagem, proposta por Gustavo Ciríaco no Pico do Refúgio, num percurso sensorial e interactivo que culminou com um surpreendente jantar sob as estrelas.
Fiel ao seu propósito de imaginar novos projectos, motivar colaborações e, sobretudo, de aproximar, realça Jesse James, “Será por onde formos” voltou a ser essa oportunidade única de cruzar pessoas, práticas e linguagens, envolvendo-nos num ambiente caloroso, naturalmente familiar, ao qual o festival já nos habituou. Projectado a partir de/e para uma geografia insular – favorável, desde logo, à dinâmica de circulação e de encontro –, o seu vasto programa de exposições, instalações, espectáculos, performances e conversas será sempre fruto desse lugar de curiosidade e liberdade para experimentar e procurar. Um estimulante apelo colectivo, que nos convida à fruição e reflexão da arte contemporânea num cenário arrebatador e inspirador como só os Açores sabem ser.
Joana Jervell
Agradecimentos: Associação de Turismo dos Açores - www.visitazores.com
Vaga ©Alexander Bogorodskiy
Vaga ©Alexander Bogorodskiy
Encerramento ©Mariana Lopes
Encerramento ©Mariana Lopes
Excursão ©Sara Pinheiro
Excursão ©Sara Pinheiro
Excursão ©Sara Pinheiro
Flávio Rodrigues ©Sara Pinheiro
Open Studio_Colectivo Indicativo ©Sara Pinheiro
Open Studio_Galeria Miolo ©Sara Pinheiro
Mane Pacheco ©Mariana Lopes
Janela do Inferno ©Filipa Couto
Janela do Inferno ©Filipa Couto
Janela do Inferno ©Filipa Couto
Últimos Dias de Emanuel Raposo ©Filipa Couto
For more information, visit Walk&Talk website.