journal
Photography: Mariana Lopes and Sara Pinheiro
24 / 08 / 2020
This article is only available in Portuguese.
Decorrida mais uma edição do carismático festival das artes Walk&Talk, em São Miguel, nos Açores, estivemos à conversa com os seus directores artísticos, Jesse James e Sofia Carolina Botelho, que nos revelam um pouco mais sobre a organização por detrás desta surpreendente edição 9.5, comprovando a vitalidade e energia de um festival que se torna obrigatório acompanhar.
Em linhas gerais, e voltando dez anos atrás no tempo, podem explicar-nos o que levou à criação deste festival e quais os seus principais objectivos?
Jesse James: Em 2011, o Walk&Talk surgiu como uma reacção ao momento, a um contexto de crise económica, mas acima de tudo à ilha, às suas especificidades e possibilidades. Na altura o nosso discurso já apontava para reflexões sobre espaço, arte e comunidade; contudo ainda havia alguma ingenuidade nas acções, algo que acabou por gerar muita liberdade, permitindo-nos descobrir enquanto fazíamos. Essa actuação por instinto e aprendizagem constante tornou-se o motor para imaginarmos outras formas de ocupar e viver o espaço público, de esticar limites e desafiar as entidades e comunidades do lugar. E o Walk&Talk constrói-se a partir daí – de uma grande fisicalidade e presença no quotidiano da cidade, com todos os murais e instalações, evidenciando a necessidade de abalar as convenções locais e as percepções de arte e cultura; do que é, de quem a faz, de como se colabora ou participa.
Entretanto estamos a quase a completar 10 anos de trabalho e, tal como nós (equipa e sociedade), o Walk&Talk cresceu, edição a edição, ampliando os nossos limites e os da ilha, aprendendo sempre com os artistas, parceiros e o público. Actualmente, é um festival muito diferente, principalmente porque nunca teve receio de mudar ou de integrar outras linguagens, nem de colaborar com parceiros diferentes.
O Walk&Talk abriu caminho para muitas conversas e, até certo ponto, propôs um novo olhar para a relação entre nossa periferia (e insularidade) e a centralidade de outros contextos. Hoje acontece em um ecossistema cultural que é muito mais vibrante e emocionante. É justo dizer que o festival teve um papel importante nesse processo de reimaginar a natureza criativa das ilhas.
Jesse James: Em 2011, o Walk&Talk surgiu como uma reacção ao momento, a um contexto de crise económica, mas acima de tudo à ilha, às suas especificidades e possibilidades. Na altura o nosso discurso já apontava para reflexões sobre espaço, arte e comunidade; contudo ainda havia alguma ingenuidade nas acções, algo que acabou por gerar muita liberdade, permitindo-nos descobrir enquanto fazíamos. Essa actuação por instinto e aprendizagem constante tornou-se o motor para imaginarmos outras formas de ocupar e viver o espaço público, de esticar limites e desafiar as entidades e comunidades do lugar. E o Walk&Talk constrói-se a partir daí – de uma grande fisicalidade e presença no quotidiano da cidade, com todos os murais e instalações, evidenciando a necessidade de abalar as convenções locais e as percepções de arte e cultura; do que é, de quem a faz, de como se colabora ou participa.
Entretanto estamos a quase a completar 10 anos de trabalho e, tal como nós (equipa e sociedade), o Walk&Talk cresceu, edição a edição, ampliando os nossos limites e os da ilha, aprendendo sempre com os artistas, parceiros e o público. Actualmente, é um festival muito diferente, principalmente porque nunca teve receio de mudar ou de integrar outras linguagens, nem de colaborar com parceiros diferentes.
O Walk&Talk abriu caminho para muitas conversas e, até certo ponto, propôs um novo olhar para a relação entre nossa periferia (e insularidade) e a centralidade de outros contextos. Hoje acontece em um ecossistema cultural que é muito mais vibrante e emocionante. É justo dizer que o festival teve um papel importante nesse processo de reimaginar a natureza criativa das ilhas.
Brum Atelier & Atelier Caldeiras, Figura-Lugar.
Gustavo Ciríaco, Cobertos pelo céu.
Atendendo ao actual contexto de pandemia, estivemos perante uma edição bastante especial, inédita mesmo. Como foi repensar a programação artística? O que foi mais desafiante?
JJ: Houve muitas variáveis que nos obrigaram a traçar vários cenários, a imaginar múltiplas soluções e alternativas, e isso acabou por ter reflexos muito positivos na equipa da Anda&Fala e do Walk&Talk, que se esforçou por criar espaço para pensar outras formas de assinalar a presença do festival em 2020. E, sobretudo, de compreender de que maneira é que o projecto poderia ocupar novos espaços e assumir outros formatos.
O que é certo é que “programar” ganhou novos sentidos e, mais do que “reagir” à situação, pareceu-nos um bom momento para reflectir sobre questões estruturais que, no nosso caso, abarcam desde o festival, aos lugares onde operamos, às comunidades com as quais colaboramos e, em última análise, à sociedade da qual fazemos parte. A pandemia tem estado a redefinir as nossas noções de democracia, de como interagimos e de como vivemos o espaço público, pelo que foi um momento oportuno para pensar em comunalidade e em como podemos construir o bem comum.
No final, a Edição 9.5 foi a nossa forma de persistir e mostrar que a cultura não pode (nem deve) ser cancelada. As artes, especialmente num contexto de crise, são essenciais na tradução dos acontecimentos e na criação de leituras, entendimentos e perspectivas. Para o Walk&Talk a única possibilidade era continuar, fosse de que forma fosse.
Sofia Carolina Botelho: O maior desafio prendeu-se com o facto de estar a programar para um futuro ainda muito incerto. Apesar disto, como referiu o Jesse, permitiu-nos repensar a forma como praticamos este “exercício” de programar, sendo que para este feito, e passando da teoria à prática no trabalhar a comunalidade, pensamos esta edição em conjunto com a equipa, os artistas e os curadores.
O festival assume uma relação muito forte com o território físico da ilha. Até então a nossa presença online resumia-se a uma lógica de comunicação. Pensar o digital também como um território onde os projectos ganham outras formas e possibilidades, bem como dinâmicas de interacção com os públicos, constituiu, de igual modo, um desafio por si só.
De que forma os artistas, e o trabalho que desenvolveram, também se adaptaram a esta nova realidade?
JJ: Todos os nossos artistas estavam a desenvolver projectos para a 10ª edição, que iria acontecer, como as anteriores, no contexto da ilha de São Miguel. Eram projectos que viviam da experiência com o espaço, da escala da paisagem ou da relação com pessoas que estavam na ilha.
Quando decidimos transferir a 10ª edição para 2021, foi com o intuito de abrir espaço para podermos imaginar uma nova edição, que designamos de 9.5, porque estaria algures entre a fisicalidade das últimas edições (e que é intrínseco às dinâmicas de um festival como o W&T) e esta nova necessidade de nos materializarmos e encontrarmos outros espaços de encontro e discussão. Nesta ideia de “entre” interessou-nos a possibilidade dos projectos expandirem-se entre o Online (Global) e o Onsite (São Miguel).
Os artistas apoiaram essa decisão e estiveram ao nosso lado a imaginar o que poderia ser esse novo formato do Walk&Talk. Tivemos várias reuniões Zoom, reunindo a equipa, artistas e outros participantes para discutir ideias, prever problemas, apresentar soluções e desenhar uma edição em conjunto. Foi um exercício muito importante em torno do que significa poder, autoria, partilha e comunalidade, e de como processos e lógicas mais horizontais são essenciais na criação de pertença e de objectivos comuns e agregadores.
Na verdade, os artistas olharam para 9.5 como uma oportunidade, e isso é notável na diversidade das propostas e formatos.
JJ: Houve muitas variáveis que nos obrigaram a traçar vários cenários, a imaginar múltiplas soluções e alternativas, e isso acabou por ter reflexos muito positivos na equipa da Anda&Fala e do Walk&Talk, que se esforçou por criar espaço para pensar outras formas de assinalar a presença do festival em 2020. E, sobretudo, de compreender de que maneira é que o projecto poderia ocupar novos espaços e assumir outros formatos.
O que é certo é que “programar” ganhou novos sentidos e, mais do que “reagir” à situação, pareceu-nos um bom momento para reflectir sobre questões estruturais que, no nosso caso, abarcam desde o festival, aos lugares onde operamos, às comunidades com as quais colaboramos e, em última análise, à sociedade da qual fazemos parte. A pandemia tem estado a redefinir as nossas noções de democracia, de como interagimos e de como vivemos o espaço público, pelo que foi um momento oportuno para pensar em comunalidade e em como podemos construir o bem comum.
No final, a Edição 9.5 foi a nossa forma de persistir e mostrar que a cultura não pode (nem deve) ser cancelada. As artes, especialmente num contexto de crise, são essenciais na tradução dos acontecimentos e na criação de leituras, entendimentos e perspectivas. Para o Walk&Talk a única possibilidade era continuar, fosse de que forma fosse.
Sofia Carolina Botelho: O maior desafio prendeu-se com o facto de estar a programar para um futuro ainda muito incerto. Apesar disto, como referiu o Jesse, permitiu-nos repensar a forma como praticamos este “exercício” de programar, sendo que para este feito, e passando da teoria à prática no trabalhar a comunalidade, pensamos esta edição em conjunto com a equipa, os artistas e os curadores.
O festival assume uma relação muito forte com o território físico da ilha. Até então a nossa presença online resumia-se a uma lógica de comunicação. Pensar o digital também como um território onde os projectos ganham outras formas e possibilidades, bem como dinâmicas de interacção com os públicos, constituiu, de igual modo, um desafio por si só.
De que forma os artistas, e o trabalho que desenvolveram, também se adaptaram a esta nova realidade?
JJ: Todos os nossos artistas estavam a desenvolver projectos para a 10ª edição, que iria acontecer, como as anteriores, no contexto da ilha de São Miguel. Eram projectos que viviam da experiência com o espaço, da escala da paisagem ou da relação com pessoas que estavam na ilha.
Quando decidimos transferir a 10ª edição para 2021, foi com o intuito de abrir espaço para podermos imaginar uma nova edição, que designamos de 9.5, porque estaria algures entre a fisicalidade das últimas edições (e que é intrínseco às dinâmicas de um festival como o W&T) e esta nova necessidade de nos materializarmos e encontrarmos outros espaços de encontro e discussão. Nesta ideia de “entre” interessou-nos a possibilidade dos projectos expandirem-se entre o Online (Global) e o Onsite (São Miguel).
Os artistas apoiaram essa decisão e estiveram ao nosso lado a imaginar o que poderia ser esse novo formato do Walk&Talk. Tivemos várias reuniões Zoom, reunindo a equipa, artistas e outros participantes para discutir ideias, prever problemas, apresentar soluções e desenhar uma edição em conjunto. Foi um exercício muito importante em torno do que significa poder, autoria, partilha e comunalidade, e de como processos e lógicas mais horizontais são essenciais na criação de pertença e de objectivos comuns e agregadores.
Na verdade, os artistas olharam para 9.5 como uma oportunidade, e isso é notável na diversidade das propostas e formatos.
Flávio Rodrigues, Hodiernidade | E na anfibologia do agora.
Danny Bracken, Missing You (left) and Ilhas Studio, We Are Running out Of Time (right).
Falando dessa dinâmica online/onsite, podem dar-nos uma ideia de como esta complementaridade funcionou?
JJ: A plataforma online foi (e continua a ser) o ponto de partida para explorar os vários projectos artísticos, bem como para aceder a conteúdos áudio (como podcasts e a Rádio 9.5), eventos live (transmitidos em streaming) e um chat comum (onde se pode conversar). Esses mesmos projectos tiveram continuidade e expandiram-se a vários locais da ilha de São Miguel, através da apresentação de instalações, de áudio walks ou visitas.
SCB: Das questões mais interessantes desta dualidade online/onsite talvez seja a questão do tempo e da passagem do mesmo pelos projectos. Se o espaço físico dita a – maior ou menor – efemeridade dos projetos, no espaço digital o projecto cresce, amplifica-se, podendo ainda revisitar passados.
O projecto We are running out of time das Ilhas Studio este ano apresenta-se como antevisão de uma maratona que acontecerá em 2021. Olhando para uma maratona como forma de manifestação por várias causas, na plataforma 9.5 e na rádio, apresentam um arquivo de pessoas que lutaram por causas e cuja memória (e luta) prevalece até hoje. Podemos participar, partilhando nesta plataforma a nossa frase ou causa. No onsite, em vários pontos da ilha de São Miguel podemos encontrar estas mesmas frases gravadas no chão, como forma de consciencialização da causa mas também como lembrete para a maratona que decorrerá no próximo ano.
Outro exemplo que podemos destacar é a Luísa Salvador, que cria um mural em Ponta Delgada e na plataforma apresenta-nos um ensaio sobre o mesmo, atribuindo uma nova camada de leitura ao projecto.
Beatriz Brum, João Miguel Ramos e Rodrigo Queirós estiveram durante o Walk&Talk em residência no Brum Atelier, período durante o qual era possível visitar o espaço, acompanhando a evolução dos projectos. Na plataforma 9.5 apresentaram um espaço que ia sendo, à semelhança do atelier, diariamente alterado, composto por imagens dos projectos e imagens de referência dos mesmos, alimentando a evolução do pensamento do projecto.
Sobre a criação da Rádio 9.5 que mencionam (e uma novidade no festival), o que nos podem dizer sobre esta iniciativa?
JJ: A Rádio 9.5 foi uma das propostas que surgiu das reuniões de grupo, sendo os próprios artistas a propor e a insistir na rádio como plataforma, ao ter essa capacidade de criar um espaço comum entre a esfera global (transmissão em streaming) e a comunidade local (transmissão FM).
Foi um projecto muito desafiante, porque não tínhamos experiência e tivemos que reagir e improvisar muito, mas também nos permitiu explorar outros espaços de programação e comunicação e é, sem dúvida, uma das coisas que herdamos para futuras edições. Foi uma grelha construída com contribuições vindas de muitos lugares, com ritmos e propósitos muito distintos, articulados com outros programas e áreas do festival, e isso criou muita diversidade nos conteúdos.
Um óptimo exemplo foram os episódios do “Corpo que escuta” que davam voz aos projectos do 9.5 na rádio, e que foram produzidos no âmbito do nosso Programa de Conhecimento. Vários artistas também encontraram formas de expandir os seus projectos na rádio, através de playlists, programas ou conversas.
SCB: Do mais interessante de se criar a Rádio 9.5 talvez tenha sido o alcance que a mesma teve, a nível global mas também local. Alcance este que, na verdade, ainda é cedo para medir porque, terminado o festival, ainda estamos a avaliar o impacto que, efectivamente, teve.
JJ: A plataforma online foi (e continua a ser) o ponto de partida para explorar os vários projectos artísticos, bem como para aceder a conteúdos áudio (como podcasts e a Rádio 9.5), eventos live (transmitidos em streaming) e um chat comum (onde se pode conversar). Esses mesmos projectos tiveram continuidade e expandiram-se a vários locais da ilha de São Miguel, através da apresentação de instalações, de áudio walks ou visitas.
SCB: Das questões mais interessantes desta dualidade online/onsite talvez seja a questão do tempo e da passagem do mesmo pelos projectos. Se o espaço físico dita a – maior ou menor – efemeridade dos projetos, no espaço digital o projecto cresce, amplifica-se, podendo ainda revisitar passados.
O projecto We are running out of time das Ilhas Studio este ano apresenta-se como antevisão de uma maratona que acontecerá em 2021. Olhando para uma maratona como forma de manifestação por várias causas, na plataforma 9.5 e na rádio, apresentam um arquivo de pessoas que lutaram por causas e cuja memória (e luta) prevalece até hoje. Podemos participar, partilhando nesta plataforma a nossa frase ou causa. No onsite, em vários pontos da ilha de São Miguel podemos encontrar estas mesmas frases gravadas no chão, como forma de consciencialização da causa mas também como lembrete para a maratona que decorrerá no próximo ano.
Outro exemplo que podemos destacar é a Luísa Salvador, que cria um mural em Ponta Delgada e na plataforma apresenta-nos um ensaio sobre o mesmo, atribuindo uma nova camada de leitura ao projecto.
Beatriz Brum, João Miguel Ramos e Rodrigo Queirós estiveram durante o Walk&Talk em residência no Brum Atelier, período durante o qual era possível visitar o espaço, acompanhando a evolução dos projectos. Na plataforma 9.5 apresentaram um espaço que ia sendo, à semelhança do atelier, diariamente alterado, composto por imagens dos projectos e imagens de referência dos mesmos, alimentando a evolução do pensamento do projecto.
Sobre a criação da Rádio 9.5 que mencionam (e uma novidade no festival), o que nos podem dizer sobre esta iniciativa?
JJ: A Rádio 9.5 foi uma das propostas que surgiu das reuniões de grupo, sendo os próprios artistas a propor e a insistir na rádio como plataforma, ao ter essa capacidade de criar um espaço comum entre a esfera global (transmissão em streaming) e a comunidade local (transmissão FM).
Foi um projecto muito desafiante, porque não tínhamos experiência e tivemos que reagir e improvisar muito, mas também nos permitiu explorar outros espaços de programação e comunicação e é, sem dúvida, uma das coisas que herdamos para futuras edições. Foi uma grelha construída com contribuições vindas de muitos lugares, com ritmos e propósitos muito distintos, articulados com outros programas e áreas do festival, e isso criou muita diversidade nos conteúdos.
Um óptimo exemplo foram os episódios do “Corpo que escuta” que davam voz aos projectos do 9.5 na rádio, e que foram produzidos no âmbito do nosso Programa de Conhecimento. Vários artistas também encontraram formas de expandir os seus projectos na rádio, através de playlists, programas ou conversas.
SCB: Do mais interessante de se criar a Rádio 9.5 talvez tenha sido o alcance que a mesma teve, a nível global mas também local. Alcance este que, na verdade, ainda é cedo para medir porque, terminado o festival, ainda estamos a avaliar o impacto que, efectivamente, teve.
Luísa Salvador, Solar.
Miguel Flor, Boys Appetite.
Sobre o vosso programa Summer School, para quem não conhece, em que consiste? Qual foi o mote para este ano?
SCB: A Summer School funciona como plataforma de encontro de artistas, curadores e jovens interessados nesta área. Edições anteriores funcionavam em formato exclusivamente presencial, em contexto de festival.
Nesta edição, perante a impossibilidade de nos reunirmos em espaço físico, as sessões decorreram virtualmente, entre o Zoom, o Whatsapp e a plataforma 9.5. Numa primeira sessão com a Direcção Artística, foi dado o mote para o plano de trabalhos para as duas semanas seguintes: responder à questão “E se não fosse um vírus mas uma palavra”, como base para um ensaio criativo em que se questionava o poder de transmissão de ideias através de uma comunidade cada vez mais global, tendo como plano de fundo o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak. Nas quatro sessões seguintes, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, Catarina Miranda, o coletivo Berru, com Cláudio Oliveira e Irene Campolmi, trabalharam com participantes de várias geografias (do arquipélago e fora dele), partilhando conceitos e metodologias de trabalho, propondo discussões e exercícios. Entre cada sessão, a discussão era mantida acesa através de um grupo de Whatsapp criado para o efeito, e moderado por Rita Mendes da equipa de Conhecimento. No final, cada participante apresentou na plataforma 9.5 o seu projecto, enriquecendo a galáxia de projetos que, através da arte, pensam o hoje.
Com o conteúdo digital a assumir cada vez mais importância, como vêem estas novas possibilidades que se abriram para o festival, e sua projecção a uma audiência global?
JJ: Em 2021 esperamos organizar a nossa 10ª edição em São Miguel, numa relação com a ilha e próximos dos públicos e participantes. O digital vai estar mais presente, mas nunca numa lógica de substituição. No Walk&Talk vai existir sempre como forma de expandir os projectos, entre o lugar e o local, e o online e global.
SCB: Vejo, em 2021, uma possibilidade de amplificação para “dentro” e para “fora”: este ano deixou clara a importância de se criarem mais e maiores raízes num contexto local, envolvendo mais e com outro nível de compromisso com públicos, explorando novas dinâmicas de interacção, ao mesmo tempo que, com o digital, temos a possibilidade não só de oferecer novas camadas de leitura/exploração dos projectos, mas também de amplificar o que é produzido em contexto do Walk&Talk a uma outra escala, pensando sempre nas possibilidades que o digital oferece a nível de linguagens.
Por fim, o que torna o Walk&Talk tão singular e diferenciador?
JJ: O Walk&Talk vem de um lugar de curiosidade, que se traduz em liberdade e disponibilidade para experimentar, para procurar. É honesto na sua missão e muito atento ao que ainda falta fazer, e isso leva a imaginar novos projectos, motiva colaborações. Aproxima. E ao trabalharmos a partir de uma ilha, isso reflecte a nossa maneira de imaginar outras relações entre geografias, espaços e pessoas.
SCB: O sentido de persistência e de reacção a uma situação actual. Sempre. Há uma constante mutação porque, a cada edição, repensam-se dinâmicas de programação, circulação e criação.
SCB: A Summer School funciona como plataforma de encontro de artistas, curadores e jovens interessados nesta área. Edições anteriores funcionavam em formato exclusivamente presencial, em contexto de festival.
Nesta edição, perante a impossibilidade de nos reunirmos em espaço físico, as sessões decorreram virtualmente, entre o Zoom, o Whatsapp e a plataforma 9.5. Numa primeira sessão com a Direcção Artística, foi dado o mote para o plano de trabalhos para as duas semanas seguintes: responder à questão “E se não fosse um vírus mas uma palavra”, como base para um ensaio criativo em que se questionava o poder de transmissão de ideias através de uma comunidade cada vez mais global, tendo como plano de fundo o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak. Nas quatro sessões seguintes, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, Catarina Miranda, o coletivo Berru, com Cláudio Oliveira e Irene Campolmi, trabalharam com participantes de várias geografias (do arquipélago e fora dele), partilhando conceitos e metodologias de trabalho, propondo discussões e exercícios. Entre cada sessão, a discussão era mantida acesa através de um grupo de Whatsapp criado para o efeito, e moderado por Rita Mendes da equipa de Conhecimento. No final, cada participante apresentou na plataforma 9.5 o seu projecto, enriquecendo a galáxia de projetos que, através da arte, pensam o hoje.
Com o conteúdo digital a assumir cada vez mais importância, como vêem estas novas possibilidades que se abriram para o festival, e sua projecção a uma audiência global?
JJ: Em 2021 esperamos organizar a nossa 10ª edição em São Miguel, numa relação com a ilha e próximos dos públicos e participantes. O digital vai estar mais presente, mas nunca numa lógica de substituição. No Walk&Talk vai existir sempre como forma de expandir os projectos, entre o lugar e o local, e o online e global.
SCB: Vejo, em 2021, uma possibilidade de amplificação para “dentro” e para “fora”: este ano deixou clara a importância de se criarem mais e maiores raízes num contexto local, envolvendo mais e com outro nível de compromisso com públicos, explorando novas dinâmicas de interacção, ao mesmo tempo que, com o digital, temos a possibilidade não só de oferecer novas camadas de leitura/exploração dos projectos, mas também de amplificar o que é produzido em contexto do Walk&Talk a uma outra escala, pensando sempre nas possibilidades que o digital oferece a nível de linguagens.
Por fim, o que torna o Walk&Talk tão singular e diferenciador?
JJ: O Walk&Talk vem de um lugar de curiosidade, que se traduz em liberdade e disponibilidade para experimentar, para procurar. É honesto na sua missão e muito atento ao que ainda falta fazer, e isso leva a imaginar novos projectos, motiva colaborações. Aproxima. E ao trabalharmos a partir de uma ilha, isso reflecte a nossa maneira de imaginar outras relações entre geografias, espaços e pessoas.
SCB: O sentido de persistência e de reacção a uma situação actual. Sempre. Há uma constante mutação porque, a cada edição, repensam-se dinâmicas de programação, circulação e criação.
Miguel Flor, Boys Appetite (left) and Ponto Atelier, Inbetween (right).
Ilhas Studio, We Are Running out Of Time.
Jesse James & Sofia Carolina Botelho.
For more information, visit Walk&Talk website.