Attitude 107: Analogue

  • Quando foi a última vez que recordámos a beleza (im)perfeita do mundo analógico? Que revelámos um rolo sem adivinharmos o seu desenlace ou deixámos o gira-discos tocar, saboreando demoradamente cada nova canção? Há uma calma indulgente nestes gestos prosaicos, uma espécie de consolação quando esquecemos a rotina e o corpo cansado se entrega às manhãs e noites sem pressas, longe da tecnologia do imediato.
  • Ainda embalados por uma certa quietude da época estival, fazemos deste número Analogue um convite à redescoberta dos prazeres simples e palpáveis, tantas vezes ofuscados pelos holofotes do digital. Entre refúgios remotos que puxam a boas leituras e conversas, feiras de design que voltam a reabrir e um painel de criativos apaixonados por arte e artesanato, encontrará nas próximas páginas uma enorme diversidade de padrões, texturas, épocas e lugares, todos eles capazes de resgatar a beleza das memórias antigas.
  • No que diz respeito a novas referências, certamente gostará de conhecer o trabalho de Ana Lamata, designer de chapéus espanhola a viver no Reino Unido, ou ainda da portuguesa Manuela Pimentel, que encontra nos cartazes e azulejos das ruas do Porto novas coordenadas para desenvolver o seu trabalho. Se a estes nomes juntarmos outros mais sonantes – como o do milanês Fabrizio Casiraghi ou ainda da dupla americana Commune Design –, estamos certos de que não lhe faltarão motivos para longas e prazerosas horas de inspiração.
  • Por último, é com uma certa nostalgia que recordamos a felicidade de voltar a fotografar numa Rolleiflex, resgatada propositadamente durante a preparação deste número para a rubrica Mood, mais analógica (e saudosista) do que nunca. Também o regresso às feiras de Milão, Copenhaga e ao festival Walk&Talk, nos Açores, acabariam por se tornar verdadeiros gatilhos de inspiração, não só pela forma como continuam a promover conversas espontâneas e encontros fortuitos, mas também pelas idiossincrasias de cada região, igualmente estimulantes e revigoradoras.
  • Talvez o acrónimo JOMO, abreviado da expressão inglesa The Joy of Missing Out, traduza bem o propósito de mais uma edição: um apelo à apreciação plena da vida, sem a ânsia de querer estar em todo o lado, a toda a hora. Deixar a angústia de parte e aprender a saborear um tempo que é nosso, sem restrições, tornou-se num privilégio raro nos dias que correm. Lutemos por ele.

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