• Andrea Santolaya

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Fotografia: Andrea Santolaya  
27 / 11 / 2020
Há uma verdade crua, muitas vezes desconcertante, nas imagens captadas por Andrea Santolaya.
Contadora de histórias por natureza, a fotógrafa espanhola mudou-se para São Miguel para continuar a alimentar a sua vontade incansável de dar rosto a pequenas comunidades. Com um portfólio invejável – que a levou aos camarotes de bailarinas russas ou a uma tribo índia da Amazónia venezualena -, é nos Açores que acaba de lançar Isolado, o seu mais recente projecto exibido na galeria Fonseca Macedo. Não conseguimos ficar indiferentes à paixão que nutre pelo seu trabalho e por esta ilha cheia de “paisagens únicas, historias e ruínas para descobrir”.

A fotografia sempre esteve presente na sua vida?
Diria antes as belas-artes. Os meus avós foram proprietários da Galeria SEN, em Madrid, numa altura efervescente dos anos 70. Lá em casa sempre houve poetas, pintores, fotógrafos, artistas conceptuais e de artes performativas, mas também um cão para dar apoio ao circo felliniano que acompanhava as exposições, os jantares e as reuniões na quinta da família em Castellon durante as épocas festivas.

Que temas mais gosta de abordar?
Tenho especial interesse por pequenas comunidades que, de alguma forma, vivam isoladas. Pode ser a comunidade Warao, na selva venezuelana, ou a comunidade “Antigos Crentes russos”, no Alasca. Gosto de me integrar nos espaços e de fazer um trabalho mais antropológico, onde fotografo as pessoas que habitam nesses lugares. Passei dois anos a fotografar uma comunidade de pugilistas em Nova Iorque e acabei por entrar no ring para conseguir perceber os aspectos psicológicos deste desporto. Mudei-me para San Petersburgo, onde estive um Inverno inteiro a desenvolver um projecto sobre o Ballet Mikhailovsky, e dividi quarto com a sulista Yulia Tikka na residência de bailarinas.

O que procura com a prática da fotografia?
A fotografia permite-me expressar os meus interesses e preocupações através de uma linguagem directa com o espectador: a imagem. É uma forma de criar uma narrativa aberta e usar imagens para contar uma história. Trata-se de uma leitura de autor da realidade feita através de conceitos que inspiram o projecto. A fotografia permite-me chegar àqueles sítios que, de outra forma, o espectador não teria acesso.
 
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Sobre o seu mais recente projecto Isolado, o que nos pode adiantar?
É um projeto desenvolvido no âmbito das residências artísticas do Pico do Refúgio, na ilha de São Miguel. A ideia da série gira em torno de pequenas comunidades, onde questiono a sua ligação com a ilha. O que acontece quando o oceano é o único elemento que rodeia uma população? Quando o continente mais próximo fica a 1 300 quilómetros de distância? O que significa estar isolado quando moras numa ilha no meio do oceano? É sob o sentimento trágico dos sonetos de Antero de Quental que este projecto procura testemunhar a ideia da transformação, da solidão, da relação do ser humano com o mar e as criaturas que o habitam. As personagens desta história são pescadores, apanhadores de chá, presidiários. É possível reflectir sobre o síndrome de morar numa ilha no século XXI? O apoio e o acompanhamento da equipa dirigida pelo director Bernardo Brito e Abreu tem sido fundamental para a agilização dos processos. Tive a oportunidade de aceder a um navio de guerra de Viana do Castelo, visitar os faróis de São Miguel ou entrar no estabelecimento prisional de Ponta Delgada.

Algum projecto na gaveta por concretizar?
Gostaria muito de conhecer e compreender o resto do arquipélago e dar continuidade ao projecto Isolado. Para mim é essencial interagir com pequenas comunidades e continuar com os workshops de fotografia como forma de inclusão social e matéria para a criação. Estas ilhas conseguem trazer ao meu imaginário uma dimensão nostálgica muito presente na narrativa de Vitorino Nemésio.

Apesar do seu trabalho ser a preto e branco... O que é que dá cor aos seus dias?
Gosto de passear pelo campo, trabalhar no topo de uma montanha com o desassossego deste espaço bucólico quando está sol, mas também nostálgico quando chove. Fotografar pescadores, ir comprar pão com eles. É o que dá cor a cada manhã quando os dias passam a correr. E na verdade, pela primeira vez, tenho misturado duas linguagens: o meu trabalho a preto e branco e uma nova fotografia as cores. Uma tonalidade muito típica desta paisagem, com uns ocres fortes, azuis cinzelados e um contraste suave comum nas nuvens açorianas.
 
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Para mais informações, visite o website Andrea Santolaya.
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