• Luís Rebelo de Andrade

    Arquitectura de Superação

print

Fotografia: Tiago Rebelo de Andrade + Miguel Veloso 
09 / 06 / 2023
A escultura foi o seu primeiro amor, mas quis o destino que fosse na arquitectura que se viesse a expressar. Com um profundo respeito pela paisagem e uma humildade que se transpõe para tudo o que faz, Luís Rebelo de Andrade diz-se um homem de paixões — pela arte, pela arquitectura e pela vida. No ano em que completa 70 anos de vida, abriu-nos a porta do seu novo escritório — antes uma adega do Palacete dos Condes de Carnide — para falar sobre o seu percurso, sobre arquitectura e sobre o que está para vir.  
Com um portfólio vasto e um caminho consolidado, é na luta pela autenticidade e pela sustentabilidade que pauta o seu trabalho, futuro, Luís escritório num inspiração em reconhecido e afirmado em Portugal e além-fronteiras. Do Rebelo de Andrade espera mais poesia, e transformar o atelier-escola, abrindo ao público a possibilidade de beber diferentes áreas e individualidades.

ANA RITA SEVILHA Quais são as suas primeiras memórias relacionadas com a arquitectura? LUÍS REBELO DE ANDRADE Eu sempre quis ir para escultura e pintura, mas os meus pais não achavam boa ideia, o que me deixou um certo vazio de interesses, e então comecei a trabalhar para ganhar dinheiro e ter a minha independência. Tinha, na altura, 18 anos. Mas um dia dei comigo a pensar que, se não entrasse num curso superior, ia parar à tropa, e isso aterrorizava-me. A arquitectura surgiu como uma fuga, era o mais próximo da escultura. Mas depois fiz o primeiro ano do curso nas Belas Artes, e comecei a apaixonar-me pela ideia. Entretanto veio o 25 de Abril, a escola fechou e eu voltei à minha vida anterior — na altura já tinha passado à reserva territorial. Mais tarde, quando conheci a minha mulher acabei por voltar a estudar arquitectura. E acabei por me apaixonar, porque percebi que tinha muito a ver com aquilo que eu gostava: as artes, a escultura, o desenho...

Que legado ter-lhe-á deixado a escultura enquanto primeira paixão? O que fazemos hoje é um reflexo daquilo que somos. Tudo o que sai de nós já entrou de alguma maneira; depois tem que ver com a forma como misturamos esses condimentos, essa informação que vamos recebendo de forma solta. A arquitectura, de certa forma, também tem algo de escultura. Em ambas estamos a falar de forma, embora uma forma que tem mais que ver com a urbe, também tem mais responsabilidade e não pode ter nada que ver com vaidade, porque vai intervir no que é de todos, a paisagem.

Em 1989 abriu o seu atelier. Como era, na altura, a vida de um arquitecto? Trabalhávamos 12 a 14 horas por dia, tínhamos de resolver o trabalho dentro dos prazos combinados. Foi um período em que o computador nasceu para a arquitectura e passou a ser “a” ferramenta. Até lá, antes de abrir o atelier, trabalhava-se com processos artesanais de desenho: régua, esquadro, caneta, raspar para apagar... Ao longo destes anos, as formas de trabalhar o projecto de arquitectura têm mudado muito, e muito rápido. Eu tive de aprender a trabalhar com o computador, e à medida que a tecnologia aparecia para nos facilitar a vida, também complicava mais porque nos obrigava a andar mais rápido. Há projectos que sabemos imediatamente o que fazer, mas há outros que precisam de “travesseiro”, de ser mastigados... e essa rapidez às vezes não facilita. Cada sítio é um sítio, cada programa é um programa, cada lugar tem um clima diferente e, portanto, cada um tem um ADN próprio e a resposta tem de ser dada para isso mesmo.  
  • Luís Rebelo de Andrade
  • Luís Rebelo de Andrade
  • Luís Rebelo de Andrade
  • Luís Rebelo de Andrade
É a isso que se refere quando fala de uma arquitectura de superação ao invés de uma arquitectura de imposição? Exactamente! No nosso portfólio não há uma resposta repetida, não há uma receita. Tudo tem uma intenção, tudo é feito para um sítio, e não os consigo ver fora do sítio onde estão. Temos de respeitar a identidade dos sítios, temos de trabalhar com os materiais autóctones — e logo aí há algo que nos aponta o caminho da solução, que tem que ver com o lugar. Temos projectos que estão muito marcados pelo lugar onde  
  • Luís Rebelo de Andrade
  • Luís Rebelo de Andrade
  • Luís Rebelo de Andrade
  • Luís Rebelo de Andrade
  • Luís Rebelo de Andrade
Para mais informações, visite o website Rebelo de Andrade.
close

Subscreva a nossa Newsletter, para estar a par de todas as novidades da nossa edição impressa e digital.