09 / 05 / 2024
Texto: Verónica de Mello
O artista contemporâneo e realizador de vídeo Iván Argote, de origem colombiana mas radicado em Paris, apresenta um trabalho provocador nos jardins da Bienal que nos leva a reflectir sobre esta linha curatorial proposta para a Bienal mais reconhecida no mundo da arte.
A sexagésima Bienal de Veneza (Abril – Novembro de 2024) tem curadoria de Adriano Pedrosa — director artístico do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) e primeiro comissário latino-americano —, cujo conceito curatorial para esta edição foi apresentado como “Estrangeiros em Todos os Lugares”.
Este título leva-nos a questionar a presença do “outro” naquilo que declaramos como sendo o nosso território ou identidade, quando estamos fora do país que consta como o nosso local de nascimento no passaporte. O que significa esta ideia de estrangeiros em todos os lugares? Somos todos estrangeiros? Há estrangeiros onde quer que se vá e, no fundo, somos sempre estrangeiros.
O artista contemporâneo e realizador de vídeo Iván Argote, de origem colombiana mas radicado em Paris, apresenta um trabalho provocador nos jardins da Bienal que nos leva a reflectir sobre esta linha curatorial proposta para a Bienal mais reconhecida no mundo da arte. O trabalho multidisciplinar de Argote é influenciado pela resistência, desobediência civil, e é combinado com humor e inteligência. Nos seus projectos — esculturas, instalações, imagens em movimento e intervenções — Argote analisa a construção do poder e a produção da história. Interessa-se por intervir na esfera pública, ao criar esculturas e instalações de grande escala que tentam reinterpretar o status quo.
Instalada nos Giardini, Descanso mostra uma nova possibilidade onde as plantas selvagens nativas e migrantes crescem a partir do repouso horizontal da estátua de Cristóvão Colombo; esta é uma réplica da estátua que se encontra erguida em Madrid. Desta figura histórica surge uma nova vida e um novo significado, apresentando ao público diferentes perspectivas. Argote abre um novo discurso possível.
VERÓNICA DE MELLO: A arte é um meio de activismo político? Qual a mensagem que pretende transmitir?
IVÁN ARGOTE: A arte é um lugar de expressão política, poética e emocional. A arte está no centro do pensamento e do desenvolvimento humano; está relacionada com esta capacidade de alucinar e criar novos mundos e futuros. É um pensamento sensível. Eu venho de uma família de activistas; é um trabalho diferente do meu, muito concreto e ancorado num lugar, num tempo e num grupo de pessoas. Eu trabalho numa esfera mais vaga, propondo ideias para uma grande conversa que atravessa tempos e geografias. Pode fazer-se arte militante ou militância artística. Não me sinto em nenhum desses casos; sinto-me mais próximo de um ensaísta que usa a poesia para gerar um pensamento crítico sensato.
Não se trata necessariamente de uma mensagem, mas provavelmente mais de um sentimento. Como é que se sente quando se está rodeado de injustiça? Como é que se sente? O mundo de “Kasia” é governado por um espírito de dominação?
Sinto que somos mais como escritores de romances. Criamos histórias, ângulos a partir dos quais podemos olhar para a existência. Coloco questões sobre a forma como nos relacionamos uns com os outros, como nos relacionamos com as nossas histórias e cidades, e como podemos propor novas perspectivas sobre isso, utilizando os nossos próprios meios — agindo.
Este título leva-nos a questionar a presença do “outro” naquilo que declaramos como sendo o nosso território ou identidade, quando estamos fora do país que consta como o nosso local de nascimento no passaporte. O que significa esta ideia de estrangeiros em todos os lugares? Somos todos estrangeiros? Há estrangeiros onde quer que se vá e, no fundo, somos sempre estrangeiros.
O artista contemporâneo e realizador de vídeo Iván Argote, de origem colombiana mas radicado em Paris, apresenta um trabalho provocador nos jardins da Bienal que nos leva a reflectir sobre esta linha curatorial proposta para a Bienal mais reconhecida no mundo da arte. O trabalho multidisciplinar de Argote é influenciado pela resistência, desobediência civil, e é combinado com humor e inteligência. Nos seus projectos — esculturas, instalações, imagens em movimento e intervenções — Argote analisa a construção do poder e a produção da história. Interessa-se por intervir na esfera pública, ao criar esculturas e instalações de grande escala que tentam reinterpretar o status quo.
Instalada nos Giardini, Descanso mostra uma nova possibilidade onde as plantas selvagens nativas e migrantes crescem a partir do repouso horizontal da estátua de Cristóvão Colombo; esta é uma réplica da estátua que se encontra erguida em Madrid. Desta figura histórica surge uma nova vida e um novo significado, apresentando ao público diferentes perspectivas. Argote abre um novo discurso possível.
VERÓNICA DE MELLO: A arte é um meio de activismo político? Qual a mensagem que pretende transmitir?
IVÁN ARGOTE: A arte é um lugar de expressão política, poética e emocional. A arte está no centro do pensamento e do desenvolvimento humano; está relacionada com esta capacidade de alucinar e criar novos mundos e futuros. É um pensamento sensível. Eu venho de uma família de activistas; é um trabalho diferente do meu, muito concreto e ancorado num lugar, num tempo e num grupo de pessoas. Eu trabalho numa esfera mais vaga, propondo ideias para uma grande conversa que atravessa tempos e geografias. Pode fazer-se arte militante ou militância artística. Não me sinto em nenhum desses casos; sinto-me mais próximo de um ensaísta que usa a poesia para gerar um pensamento crítico sensato.
Não se trata necessariamente de uma mensagem, mas provavelmente mais de um sentimento. Como é que se sente quando se está rodeado de injustiça? Como é que se sente? O mundo de “Kasia” é governado por um espírito de dominação?
Sinto que somos mais como escritores de romances. Criamos histórias, ângulos a partir dos quais podemos olhar para a existência. Coloco questões sobre a forma como nos relacionamos uns com os outros, como nos relacionamos com as nossas histórias e cidades, e como podemos propor novas perspectivas sobre isso, utilizando os nossos próprios meios — agindo.
“Descanso” na Galería Albarrán Bourdais. Photo ©Galería Albarrán Bourdais
Estúdio Iván Argote ©Iván Argote
Como podemos entender uma figura histórica como Cristóvão Colombo, agora reconfigurada em Descanso? A instalação Descanso funciona em vários níveis. É um anti-monumento, a um herói e a uma ideologia caídos, a uma tradição caída.
©Iván Argote
©Verónica de Mello
©Karen Paulina Biswell
Para mais informações, visite o website La Biennale di Venezia.