Concebido como um alojamento de férias, o projeto no centro histórico de Mérida, re-imagina uma casa abandonada através de uma sucessão de pátios e módulos fechados. Esta remodelação privilegia a luz natural, a ventilação e os materiais tradicionais, preservando ao máximo a estrutura original.

Localizada num lote urbano, com 5 por 31 metros, a propriedade encontrava-se num estado de abandono estrutural, com telhados desmoronados e uma densa vegetação. Ao invés de avançarem com a demolição total da casa, os arquitetos propuseram uma estratégia com vista a erguer as ruínas: conservar as paredes de alvenaria históricas, introduzir luz através de pátios e claraboias e organizar o espaço em seis volumes – três cobertos e três ao ar livre. “Em vez de criar uma nova casa, quisemos recuperar a que já existia, revelando o seu potencial através do ritmo dos pátios, das curvas e da luz”, afirma o arquiteto José Luis Irizzont Manzanero.

Desde a porta principal, desenrolam-se uma série de espaços: jardim de entrada, núcleo social (cozinha e sala de estar), pátio central, suíte para hóspedes, jardim posterior com piscina, e suíte principal no fundo do terreno. O pátio central, no coração da casa, organiza a circulação e o atua como um elemento passivo de arrefecimento. As paredes curvas, os pátios e as diferentes ligações ao ar livre garantem que todas as áreas sejam naturalmente iluminadas e ventiladas, oferecendo atmosferas em constante mudança ao longo do dia.

Uma paleta sóbria de materiais e texturas define esta intervenção. Os principais acabamentos incluem reboco de cal em tons naturais e betão impresso nas zonas húmidas. A equipa reutilizou a alvenaria original, sempre que possível, e deixou à vista as lajes da cobertura, revelando as vigas como referência aos tradicionais “rollizos” de madeira. As casas de banho contam com claraboias, que enquadram uma bonita vista para o céu.

As grades em aço das janelas são do tom original da casa — um azul-céu suave —, enquanto as áreas pavimentadas combinam pedra regional com uma paisagem minimalista, que evoca calma e continuidade.

Cerca de 70% da estrutura original da casa foi mantida, reduzindo significativamente os resíduos de demolição e o impacto da construção. Desta forma, as estratégias de design passivo (ventilação natural, sombreamento e uso de materiais de baixo consumo energético) contribuem para uma abordagem sustentável, tanto do ponto de vista ambiental como cultural.

O resultado deste projeto é um exemplo de como as intervenções arquitetónicas de pequena escala oferecem alternativas significativas à demolição. Ao equilibrar o restauro e a reinterpretação, o projeto dá uma nova vida a um canto esquecido do património de Mérida, oferecendo uma experiência de vida serena e contemporânea, enraizada na tradição.