ALEXANDRA NOVO: Como surgiu o fascínio pela impressão de papel de parede em placa e o interesse em ressuscitar técnicas dos séculos XVIII e XIX?
FRANÇOIS-XAVIER RICHARD: As técnicas de impressão em chapa encontram-se na encruzilhada dos mundos da gravura, do papel, da pintura, do design gráfico, do livro, do objecto. E tudo isso através de um mesmo meio: o papel. O que me fascinou, sem que inicialmente me apercebesse, foi o papel, daí a noção de “ennoblisseur de papier” (enobrecedor de papel).
O diálogo do papel com a arquitectura de interiores é a verdadeira fonte da minha pesquisa. Quanto às técnicas antigas, atrai-me a força carnal que oferecem num mundo digitalizado. Assim como o papel, uma matéria ancestral e incubadora de cultura.

A investigação ocupa um lugar de destaque nas actividades do atelier. Para além das técnicas ancestrais, que técnicas inovadoras foram introduzidas? De que forma é que estas se ajustam às aplicações contemporâneas no âmbito das artes e do design de interiores? Esperamos oferecer uma abordagem diferente do papel na decoração, fazendo com que a arte, o design e o artesanato se cruzem sem tabus, promovendo o diálogo entre o objecto e a parede, a inteligência e a mão. Através de uma exploração sem fronteiras da matéria — o papel — procuramos encontrar um significado específico, uma linguagem, uma história que desejamos contar sobre o ser humano, para o ser humano. Encarnar o pensamento, o imaginário, é quase uma inovação nos dias de hoje.
Além disso, procuramos atender às expectativas sociais sobre a forma de consumir e perceber o mundo, adoptando uma abordagem ecológica com um espírito de sustentabilidade. As técnicas antigas, abordadas com um olhar contemporâneo, tornam-se inovadoras e surpreendentes. Gostamos de transgredir alguns códigos, frequentemente desnecessários.

A residência artística em Villa Kujoyama, em Kyoto, foca-se no som do papel. Em que consistiu esta abordagem/intervenção? O papel tem alma? Que significado vive por trás desse som? O papel é o espelho fosco da nossa alma. O papel é um confidente, a pele do nosso imaginário, dos nossos pensamentos. Concedo-lhe um poder místico. O som é uma forma de explorar a fibra do papel, de ir à fonte da nossa memória, do nosso imaginário.
O órgão de papéis é um espaço sonoro que propõe uma arquitectura de papel a vários artistas (músicos, actores, video makers, artistas plásticos, bailarinos) para explorar a sua linguagem.