• Meet the Artist: Pepa Reverter

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29 / 01 / 2020
Catalã, sediada em Barcelona, a artista plástica e designer gráfica Pepa Reverter soma colaborações regulares com marcas e instituições, gostando de mover-se entre múltiplas linguagens criativas. Fortemente inspirada pelo universo feminino, no seu trabalho multidisciplinar encontramos uma contínua homenagem ao papel das mulheres nas distintas sociedades e culturas.

Trabalha com muitos meios – como artista plástica, ilustradora, desenhadora, ceramista … Identifica-se mais com algum em especial?
Gosto de transitar de uma linguagem para outra e acho que ainda tenho muitos campos para trabalhar, é algo que me estimula pois gosto de aprender. Ultimamente, estou mais focada na cerâmica e na escultura, mas não descarto o uso de outros media. Acho que cada linguagem te faz comunicar coisas diferentes, dependendo do que se quer dizer podes sempre usar um suporte e meio distintos. Se houver uma encomenda por parte de uma instituição ou empresa privada gosto de adaptar-me ao que me é pedido, e nesse caso, o processo cresce ao contrário, começamos por ver aquilo que dispomos e para onde queremos ir.

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Há uma mensagem comum por detrás do seu trabalho que lhe interesse comunicar?
Interessa-me sobretudo comunicar, muitas coisas podem ser ditas com objectos e com arte. A série Sisters, produzida com a marca Bosa, é uma homenagem às mulheres de todas as culturas. A condição de ser mulher é, para mim, importante e, com este projecto, junto-me à visão das mulheres que falaram sobre outras mulheres e que estavam interessadas em transmitir a essência de ser mulher, que acaba por ser mais parecida, universal e atemporal, algo que a história nunca nos contou. Também me sinto cada vez mais atraída por uma linguagem universal e simples (...). Acredito que entre todos nós – cada um com aquilo que pode e aquilo que tem ao seu alcance –, temos que inverter a tendência contemporânea que parece ser imposta ao mundo no que respeita à falta de amor e de compreensão pelo ser humano. Acho que as sociedades mais desenvolvidas perderam a noção daquilo que é importante cuidar e preservar. O poder económico e as leis impostas pelo ser humano no Ocidente parecem ter esquecido a essência da vida. As únicas leis que não podemos mudar são as da natureza; as normas criadas pelo ser humano devem ser revistas e alteradas para melhorar a vida das pessoas e a evolução da nossa civilização. Infelizmente, acho que é bastante evidente que isso não está a acontecer quando acordos sobre mudanças climáticas não são cumpridos, ou nada é feito para salvar a Amazónia nem para preservar os direitos das culturas primitivas de cada lugar. Mantêm-se as guerras pelo poder económico e a vida humana não importa aos governos europeus quando há milhares de milhões de pessoas a viver em campos de refugiados durante anos. Há imagens muito tristes e os governantes são responsáveis; devemos começar a exigir responsabilidades e a invertir os interesses para bem da Humanidade.

Sobre a colecção Sharjah Totems, desenvolvida em colaboração com o Irthi Contemporary Crafts Council, o que importa saber sobre estas peças?
É uma colecção que combina elementos próprios da arte, ao pensar num formato escultural e em reminiscências primitivas, e que inclui valores úteis para cada peça, próprios do âmbito do design. Importa saber que as peças são feitas à mão e que têm uma missão cultural e social. Cultural porque é a partir de Sharjah, a capital cultural dos Emirados Árabes Unidos, que o Irthi Council, que é a força matriz do projecto, visa revitalizar o artesanato e as técnicas ancestrais que ali deixaram de ser praticadas. E social porque há uma parte do projecto realizado com a NAMA, uma instituição que trabalha com artesãs às quais deu trabalho através deste projecto. Ambas as missões parecem-me muito louváveis.

O que é que esta experiência lhe trouxe? Como foi trabalhar com artesãos de diferentes origens?
Na vida tens sempre desafios a enfrentar; esta colecção de peças em cerâmica para o exterior, juntamente com outras colecções do projecto Irthi Crafts Dialogue, têm sido um desafio em todos os sentidos. Em primeiro lugar devido ao mix de pessoas que nele trabalharam, provenientes de culturas de países muito diversos: Emirados Árabes Unidos, Síria, Espanha e outras partes da Europa. Em segundo lugar, pelo seu desenvolvimento através de redes como a Internet, que salvam as distâncias entre os membros da equipa.

 
Num mundo marcado pela produção massificada e pelo imediatismo, qual a importância de trabalhar com a arte tradicional e artesanal?
Preservar a memória individual e colectiva está implícito em qualquer projecto de âmbito artesanal. Acho interessante participar nesse tipo de trabalho para ter ao nosso alcance, e manter vivo, um espírito essencial de formas que surgem de materiais naturais e das mãos de um artista, ceramista ou escultor. O digital e tecnológico também me interessam, mas por um lado, já existem muitas pessoas que trabalham em digital, e por outro, não quero perder de vista as ferramentas e capacidades manuais que, a cada dia que passa, formam mais parte do passado e do esquecimento.

O que mais a atrai na cerâmica?

Gosto do toque e da matéria-prima que é usada. Gosto do facto de ser um elemento natural, que provém da terra e que é um dos materiais mais ecológicos que existem hoje no contexto do mundo do design contemporâneo.

Como alimenta a sua criatividade? Li, numa entrevista, que viajar é algo que necessita bastante…
Viajar é muito estimulante porque adoro descobrir coisas, conhecer novas cidades, paisagens, modos de viver, de estar e de trabalhar. Entender o mundo e as sociedades em que habitamos interessa-me, é extraordinário poder viver uma experiência na primeira pessoa. Visitar museus, exposições, instalações, participar em feiras, ler livros, ver cinema… Considero que tudo é útil para alimentar a criatividade mas, no final, é uma questão de atitude; eu poderia viver no deserto e continuaría a ser criativa pois o meu olhar para as coisas é artístico.
Para poder trabalhar e inspirar-me, na verdade, o que se torna mais elementar é o silêncio, a concentração e a harmonia – estarmos em paz connosco é algo fundamental. Outro dos elementos fundamentais é o tempo – dispôr de tempo e não ter pressa para realizar um projecto. Dar o tempo necessário para “cozinhar”, tal como na culinária – fazer um estofado com tempo e carinho.

Planos para 2020 que nos possa revelar?
Há várias coisas em projecto que estão a caminho: uma exposição de cerâmica em Madrid, uma nova série de Sisters, a publicação de um livro, e a apresentação do meu estúdio-showroom em Barcelona, no qual trabalhamos em diferentes formatos há 20 anos e onde estamos a projectar um conjunto de mudanças interessantes.

Para mais informações, visite o site de Pepa Reverter.
Este artigo só está disponível em Português.
Fotografia: Cortesia Pepe Reveter 
Texto: Joana Jervell
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