• Neeltje de Vries

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Fotografia: Cortesia Neeltje de Vries 
19 / 03 / 2024
Desde criança que procurava encontrar a organização nos ambientes que a rodeavam, como um equilíbrio sensorial que oscila consoante o seu estado de espírito. E é na ambiência que a envolve que a sua criatividade enquanto fotógrafa é estimulada; onde vê cores e fala por imagens, estabelecendo uma linguagem única que lhe permite explorar o poder da mulher, como reflexo do seu conhecimento e amor próprio. 
LÚCIA RUMOR: Quem é a Neeltje de Vries? NEELTJE DE VRIES: Uma mulher de 47 anos que mora em Amesterdão com a sua filha e que vai casar com o seu grande amor e artista Sidney Waerts. Mas se tiver de me descrever sou, acima de tudo, mãe da minha filha. Alguém que valoriza as pessoas que lhe são mais próximas. A minha mãe, a minha melhor amiga, o meu noivo.
Sou alguém que quer sempre crescer, que faz muita auto-reflexão e sente a necessidade de criar. Penso, sinto e lembro-me através de imagens. Essa é a minha linguagem. Também tenho “sinestesia”. Quando, neurologicamente, uma percepção sensorial pode evocar involuntariamente outras impressões sensoriais. Por exemplo, sinto as cores com os dias. Para mim, a quinta-feira é amarelo escuro. As imagens impõem-se na minha cabeça e surge a inquietação se eu não lhes responder.

Pode falar-nos um pouco sobre o seu percurso e de como a experiência anterior em Design Gráfico influenciou o seu trabalho fotográfico e linguagem actuais? Quanto estudei Publicidade e Apresentação, escolhi a direcção gráfica. A fotografia também estava incluída nos planos, mas escolhi o curso gráfico. Sou muito sensível à luz. O facto de as aulas de fotografia serem sempre no escuro não me atraiu. Fotografia significa literalmente “escrever com luz”. A criação de imagens, por outro lado, sempre me atraiu bastante. Durante anos, trabalhei de forma autónoma como designer gráfica, e cresceu em mim a necessidade de ter mais controlo sobre as imagens com que tinha de lidar enquanto designer. Assim, decidi voltar aos estudos em fotografia. O design gráfico é como um puzzle. Recolhe-se a informação e os elementos, e depois cria-se um equilíbrio para que se traduza num visual ainda mais forte do que todos os elementos individuais. E essa parte está muito presente em mim. Quando era criança, estava sempre a tentar encontrar o equilíbrio na organização. Mesmo que fosse preciso mudar o meu quarto 10 vezes, tinha de corresponder ao meu estado de espírito. Quando me sentia mal, por vezes fechava-me na despensa. Só saía de lá quando tinha tudo organizado. Isso dava-me paz de espírito. Quando havia tensão em casa, eu arrumava tudo. O design gráfico é assim. Encontrar o equilíbrio no todo. E é exactamente isso que se vê nas minhas fotografias. Tem de estar correcto. Isso encontra-se no enquadramento, nas linhas e, por vezes, apenas no desequilíbrio deliberado. Ajuda-me a transmitir a sensação que sinto com a imagem.

Qual é a primeira recordação que tem com a fotografia? A minha primeira recordação real é do meu avô. Ele tinha uma quarto escuro em casa para as suas fotografias. Que, já agora, eu achava que era um quarto assustador. Mas ele foi o primeiro a fazer-me pensar e a iniciar a conversa sobre imagens. Achava que eu era demasiado impaciente e queria que eu pensasse melhor sobre o que queria fazer. Seria maravilhoso se ele estivesse vivo agora, nesta altura da minha carreira, e que eu pudesse falar com ele sobre isto. Penso nisso com regularidade. A fotografia dele está pendurada na minha casa e falo com ele regularmente. Estou convencida de que ele está comigo. 
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Ao olhar para o seu trabalho, sente-se profundamente as narrativas fortes e atemporais em torno do empoderamento das mulheres. Sente que a representação do corpo feminino funciona como um chamamento para se encontrar, de uma maneira em que pode expressar a sua própria visão de como é ser mulher? Certamente, as mulheres com quem trabalho representam partes de mim. Na ausência da figura paterna certa, a emancipação é definitivamente uma grande parte que existe em mim. Mas não uso as minhas modelos para me encontrar. Servem mais como uma saída. Fotografo o que me afecta; o que eu mesmo experimento, traduzo nelas. Não tenho ideia de como é ser um homem. Por isso, não os fotografo. Posso ver, pelo meu trabalho, onde estou naquele momento do meu próprio desenvolvimento. 
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Para mais informações, visite o website Neeltje de Vries
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