Terá sido com esta certeza que, há 10 anos, João Feijão disse: “Tem de ser aqui!” O lugar, um conjunto de dois armazéns do século XVII destinado a albergar farinhas e cereais do Moinho da Maré, reunia argumentos sérios — a traça, a história, a proximidade com o rio. Vislumbres de uma tela em branco, embrião familiar para o jovem, médico veterinário e gestor, viver com a sua filha.
Foram 10 anos de projecto, de proximidade e partilha com o arquitecto Manuel Aires Mateus; os últimos quatro, de obra efectiva e reuniões intensivas. A sensibilidade e o respeito pela arte, arquitectura e design e a identificação com a linguagem do arquitecto proporcionaram total liberdade criativa.

“Sabia que a casa desenhada por ele seria fluida e ‘boa de habitar’. Trazer essa qualidade do habitar para o desenvolvimento da minha filha, agora com nove anos, também foi algo que sempre me motivou”, afirma João.
O que nasceu desse encontro é o que faz da arquitectura uma arte. O resultado é um imenso volume escultórico, poesia concreta de luz e forma. Como uma caixa dentro de uma caixa, a estrutura vive da simbologia dos opostos como uma pele silenciosa e íntima, de protecção da rotina familiar.