O Tomás nasceu numa família de artistas e, apesar de ter tido um pé na vida académica, nunca concebeu uma profissão que não fosse esta. Já a Sofia tentou “uma vida séria”, trabalhou como assistente social e como grupanalista, depois como jornalista, mas acabou por transformar o hobby da pintura em profissão. O Tomás e a Sofia são ambos artistas, e são marido e mulher. Gostam ambos de uma arte multidisciplinar e de conceitos pouco convencionais. Têm alguma pintura em comum, mas trabalham sobretudo individualmente, apesar da contaminação ser inevitável.
Já tinham trabalhado em vários espaços: ocuparam uma parte do Convento das Bernardas, em Tânger fizeram de uma antiga peixaria um atelier, e o último foi um apartamento grande de uma vizinha antes de ir para obras. Não queriam voltar a trabalhar em casa, e decidiram procurar um novo espaço. E ficaram encantados com o portão de quinta do jardim deste armazém em Xabregas.
O conceito começou a ganhar forma depois de escolhido o espaço. Tendo em conta a dimensão do mesmo, não fazia sentido trabalharem aqui apenas os dois. Começaram por isso a fazer de forma estruturada aquilo que já faziam na sua própria casa: tinham sempre as portas
abertas, os amigos apareciam para jantar, artistas estrangeiros passavam lá temporadas. Foi assim que nasceu o Grilo, um espaço dinâmico e colaborativo. Alugam ateliers, recebem artistas em residência, aco-lhem voluntários, organizam jantares e festas. Trabalham individualmente e em equipa, mas sempre de forma mutável e um tanto efémera: os artistas entram e saem, têm a sua autonomia, desenvolvem o seu trabalho, e contribuem, cada um à sua maneira, para o quotidiano do Grilo, por exemplo na cozinha ou na horta. A organização é fluida, cada um tem as suas agendas e os seus horários, não há hierarquias definidas. Quando há jantares, que são em si uma experiência estética e artística, são os artistas que cozinham, que decoram as mesas, que servem os pratos cuidadosamente preparados.


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