• Casa com Três Pátios

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04 / 05 / 2018
Na edição 80 da Attitude, entrevistamos o estúdio de arquitectura lisboeta, que nos falou das especificidades dos projectos particulares: “a casa, que é um programa banal, é sempre um desafio que nunca se repete, em função do agregado familiar, do enquadramento urbano e da expectativa depositada na vivência”. Agora, é a vez do Extrastudio nos revelar o que esconde a Casa com Três Pátios – uma habitação familiar situada em Azeitão, perto de Lisboa, que, apesar da aparente vulgaridade, surpreende-nos lentamente com os seus tons quentes, um encanto natural e a sua deliciosa essência mediterrânica.

Relativamente ao cliente, que elementos traduzem nesta casa os seus gostos e interesses?
Os clientes são ambos agrónomos, de forma que a relação com a paisagem, com o exterior, e com um universo de materiais mais cru, que faz parte da nossa memória, foi um ponto de partida comum. Um deles tem uma relação pessoal e profissional importante com o mundo enológico que trouxe alguns elementos específicos ao projecto. Sob o pátio principal existe um volume octogonal, uma garrafeira, feita especificamente para albergar uma colecção de moscatéis raros do séc. XIX e XX. É uma espécie de pequena capela enterrada. Apenas um óculo no pátio central denuncia a sua existência.



Qual a importância da existência dos três pátios na construção do espaço?
Esta casa está compreendida entre outros edifícios, num lote muito estreito onde não é possível abrir janelas laterais. Os pátios são fundamentais para trazer luz natural ao interior. Cada pátio tem também uma função específica; o mais pequeno medeia a relação da casa com a rua, permitindo estar na aldeia, mas simultaneamente resguardar das pessoas que passam; o maior é o centro da casa, um pátio mediterrâneo clássico, onde é possível comer ou jantar à noite protegido do vento; e o terceiro funciona como um plateau, um jardim elevado 3 metros da rua, onde crescem árvores, relacionando a casa com a paisagem, com as vinhas e a serra em redor.

Quais os principais desafios com que se depararam durante o processo criativo? De que forma foram superados?
Este projecto foi adjudicado com um valor de obra muito reduzido, a proposta mais baixa entre as recebidas de vários empreiteiros. Ainda que tenha havido um esforço grande de todas as partes, este facto trouxe à obra inúmeros problemas. Só com uma resiliência e acompanhamento muito grande da nossa parte, e também do cliente, acabou por se tornar possível.
 
Em que sentido é que esta casa foi particularmente diferente das casas que desenharam até agora?
A casa está no centro de uma aldeia, num lote com 20 metros de comprimento e 6 metros de largura, onde grande parte das construções só tem um piso e pertencem a outro tempo, com um universo construtivo próprio e onde a relação entre as pessoas é muito próxima. Desenvolver uma relação com esta aldeia, compreender como é que a casa se inclui, mimetizando propriedades e reforçando-a, ou se distancia sem ser deselegante, sem contrastes, foi um desafio novo para nós.

Algum detalhe em particular que queiram evidenciar?
Durante a construção, os pátios estiveram quase terminados em branco, com uma superfície polida muito lisa, o interior e o exterior eram idênticos. Embora estivessem perfeitos, e apesar de alguma relutância inicial dos clientes, foi necessário dar cor e uma textura rugosa às paredes, aproximando-as da superfície de uma pedra ou de um coral, para conformarem um espaço autónomo. Este conjunto de espaços acaba por dar uma gradação de atmosferas diferentes ao interior da casa e são também o que a torna especial. 
Um projecto dos Extrastudio.
Local: Pinheiros de Azeitão, Portugal
Arquitectura: João Caldeira Ferrão, João Costa Ribeiro, Madalena Atouguia, Daniela Freire, Anna Cañadell Mañé, Sónia Oliveira, Maria João Oliveira
Fotografia: Francisco Nogueira 
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